domingo, 9 de outubro de 2011

Em tempos de indignados, menos Jobs, mais Che






Júlio Miragaia

Uma semana sem sombra de dúvidas diferente. Uma semana que confirma: o ano de 2011 é o ano dos indignados. Nos últimos dias milhares tem saído às ruas em diversas cidades norte-americanas contra o sistema financeiro que tem levado a classe trabalhadora desse país à miséria. Esse tem sido o motivo das mobilizações no coração do principal país capitalista no mundo. São os indignados dos EUA, que já não se limitam apenas as mobilizações em Wall Street, mas em cidades como Chicago, Los Angeles e Washington.

A juventude esse ano vem derrubando ditaduras, como na primavera árabe, questionando os planos de austeridade dos governos, seja na Espanha ou na Grécia e enfrentando a política neoliberal para educação, como no Chile e no Equador. São tempos de indignação generalizada que começam a chegar sobre solo tupiniquim com rebeliões, seja na classe trabalhadora em Jirau, bombeiros do RJ, construção civil de Belém, bancários ou na juventude com a rebelião dos 30 mil que barrou o aumento da passagem em Teresina e as ocupações de reitorias em várias universidades e com maior expressão na UFF e UFPR. Até na Bolívia de Evo Morales, que no início de seu governo teve choques progressivos com o imperialismo e que agora começa a ceder, o povo tem colocado seu governo em cheque com o gasolinazo e o categórico e massivo repúdio ao massacre aos índios Tipinis.

São tempos tão indignados que a abertura do principal veículo de reprodução da ideologia burguesa no Brasil, o jornal nacional da quinta-feira, 05/10, foi no mínimo inusitada. Willian Bonner e Fátima Bernardes já não podiam manter o bloqueio midiático que semanas atrás estava sendo aplicado por praticamente toda a imprensa no mundo sobre as mobilizações em Wall Street. Assim, os âncoras globais anunciaram as manifestações, para em seguida dizer que havia uma greve geral na Grécia e posteriormente dizer que no Brasil a greve dos correios continuava, pois a base da categoria havia rejeitado em assembléias por todo o país a proposta do governo Dilma.

Nessa mesma semana em que a indignação vem sendo uma máxima sobre a juventude, às vésperas do 15 de outubro, um dia mundial de mobilização chamado pela juventude européia, duas datas marcam um importante debate. No dia 05/10 o fundador da Apple, Stve Jobs, faleceu, vítima de um câncer. No dia 09/10, completam-se 44 anos da morte de Ernesto Che Guevara. Jobs vem sendo mundialmente apontado como um gênio de nossa época, como um empresário modelo, que contribuiu para mudanças substanciais sobre a utilização da internet e do computador.

Sem entrar no entusiasmo dos que idolatram após a morte, é fundamental refletir que apesar de todos os avanços comunicacionais que o I PAD, I Phone e outras ferramentas desenvolvidas pela Apple possam proporcionar (ainda que para uma minoria da população mundial), a mão de obra de muitos trabalhadores em fábricas na China e em outros países foi queimada de forma semi-escrava para que houvessem tais avanços. O que demonstra por a+b que Jobs também era acima de tudo um patrão.

A realidade das fábricas da Apple
A Apple chegou a admitir, em março de 2010, que algumas de suas fábricas espalhadas pelo mundo violaram várias leis trabalhistas, até mesmo contratando menores de idade para fabricar iPhones, ipods e computadores Macintosh. A revelação foi feita no site da empresa, após uma auditoria em 102 fábricas na China, Taiwan, Tailândia, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, República Tcheca, Filipinas e EUA.

Em mais de 60 instalações os funcionários trabalhavam mais do que as 60 horas semanais determinadas pela Apple. Além disso, 24 parceiros pagavam menos que o salário mínimo e 57 não ofereciam todos os benefícios exigidos por lei nos países.

Em agosto desse ano, um importante ativista do meio ambiente chinês, Ma Jun, criticou a Apple, denunciando a empresa que não revela seus fornecedores que poderiam estar poluindo. Jun disse que sua entidade encontrou água poluída e foi informado sobre gases prejudiciais em áreas próximas de fábricas na China, que seriam de fornecedores da Apple.

Na cidade chinesa de Shenzhen a situação é sintomática. Nos 2 complexos da Foxconn, fornecedora dos componentes da Apple, trabalham cerca de 400 mil funcionários em linhas de produção de iPhone, iPad e outros produtos eletrônicos. Mesmo depois do suicídio dos jovens operários no ano passado, a superexploração segue sendo uma rotina. A jornada diária é de 10 horas, seis dias por semana, em troca de um salário equivalente a R$ 1.083 e seguro-saúde. Após os suicídios a Foxconn instalou grades nas janelas e redes sob os dormitórios para evitar novas mortes.

Em cada um dos quatro complexos onde vivem os trabalhadores da empresa moram 100 mil funcionários. Num quarto dormem oito pessoas. A divisão dos edifícios é por gênero, e visitas estão proibidas. As relações trabalhistas não são nada modernas: cobranças dos chefes por meio de humilhantes broncas públicas, longas horas extras, falta de privacidade e de lazer nos dormitórios e baixos salários são parte da rotina.

Sobre o suicídio dos jovens operários em 2010, o próprio Steve Jobs saiu em defesa de sua fornecedora tentando minimizar os casos dizendo que a Apple estava “tentando entender” o caso. “Nós estamos tentando entender isso. É uma situação difícil”, declarou.

"É uma fábrica --mas meu Deus, eles têm os restaurantes e cinemas. Mas eles tiveram alguns suicídios e tentativas de suicídio, e eles têm 400 mil pessoas. A taxa [de suicídios] está abaixo do número dos EUA, mas ainda é preocupante." Afirmou Jobs. Numa clara tentativa de minimizar as mortes.

44 anos em que “o futuro nos pertence”
Menos badalado que o recente falecimento do magnata da Apple, os 44 anos da morte de Che Guevara precisam ser lembrados. Dessa vez não há simbologia na data, 44 não é um número que diga algo. Porém, mais do que nunca, a primavera vem se tornando inevitável em todo o planeta. Contraditoriamente, as conquistas trazidas pela revolução cubana vem sendo extintas passo a passo pela convertida oligarquia Castro, agora sob o comando de Raul na ilha da América Central. Ao invés de apoiar os processos de luta dos povos árabes, europeus e americanos, como defendia o Che, Fidel, Raul e Chávez se colocam do outro lado da trincheira, num apoio cego à Kadafi e Assad.

Che era um profundo defensor do internacionalismo. Por isso abandonou cargo, prestígio e poder em Cuba para organizar a luta armada em toda a América Latina. Apesar de um método limitado (o método das guerrilhas), sua caracterização e parte de sua política estavam acertadas: somente novas Cubas fariam da América um continente livre do jugo da desigualdade e do capital.

O isolamento que sofreu por parte do governo cubano foi fundamental para sua execução na Bolívia. Hoje, mais do que nunca está provado que Fidel não quer novas Cubas em lugar nenhum. Seu modelo é o da China da superexploração, por isso as demissões em massa e a privatização de setores estratégicos da economia cubana, aliada a manutenção de um regime político fechado, sem liberdades democráticas.

Menos Jobs, mais Che: a verdadeira revolução do século XXI é indignada!
Um novo muro de Berlim vem caindo. As ilusões sobre o estado de bem-estar social do capital vem ruindo do norte da África aos países do centro do capital. Um muro ideológico de que o socialismo havia acabado com o fim das ditaduras stalinistas no leste europeu desmorona dia após dia. O povo egípcio tem ido às ruas para recuperar a revolução que havia sido entregue nas mãos do exército. O governo Evo na corda bamba, prestes a cair duas vezes pela esquerda e não pela mão do império são sintomas desses novos tempos. O 15 de outubro pode vir a ser uma poderosa demonstração de força também de uma nova vanguarda que não consegue identificar em Chávez, em Fidel e cia uma alternativa de direção e lutam por uma nova sociedade, contra os governos de plantão e construindo novas formas de organização. É um movimento pela base.

Enquanto alguns exaltam os avanços tecnológicos da Apple conseguidos sobre o céu de chumbo e ferro das fábricas suicidas da Foxconn, certamente a nós compete lembrar não apenas por pura nostalgia do legado do Che. Afinal, a primavera segue e é maior do que em qualquer outro momento da história. São tempos de menos, muito menos Jobs e mais Che. Tempos, como diria Eduardo Galeano, do direito ao delírio.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Trabalho escravo se repete em Campos dos Goytacazes

Entre as 20 pessoas submetidas à escravidão, cinco eram adolescentes com menos de 18 anos de idade e seis eram mulheres. Nas frentes de trabalho de capina em canaviais e cultivo de grama, não havia água potável nem banheiro

Por Bianca Pyl

Fiscalização trabalhista libertou 20 pessoas de condições análogas à escravidão, incluindo cinco adolescentes entre 16 e 18 anos de idade e seis mulheres, em Campos dos Goytacazes (RJ). Realizada no início de junho pelo grupo interinstitucional - formado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Polícia Rodoviária Federal (PRF) -, a ação foi motivada por denúncia telefônica às autoridades.

De acordo com Marcela Ribeiro, procuradora do trabalho no município do Norte fluminense, as condições encontradas na Fazenda Lagoa Limpa eram degradantes. Os empregados rurais não recebiam água potável durante todo o dia de trabalho. Não havia instalações sanitárias nas frentes de trabalho. Também não havia local adequado para as refeições e nem para armazená-las, já que os empregados traziam a comida de casa. As vítimas trabalhavam sem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e não tinham a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinadas.

A propriedade fiscalizada pertence a Walter Lysandro Godoy, que era responsável por dois trabalhadores que realizavam a limpeza do mato que nasce entre as fileiras da plantação de cana-de-açúcar. Os outros plantavam grama para a empresa Jardim do Éden Indústria e Comércio Ltda. ME.

Os empregados eram moradores da região de Campos dos Goytacazes (RJ) e trabalhavam no local desde abril. O MTE lavrou 13 autos de infração. As verbas rescisórias pagas a cada trabalhador superaram a quantia de R$ 1 mil. Os trabalhadores libertados também devem receber o Seguro Desemprego para Trabalhador Resgatado. A reportagem tentou, mas não conseguiu contato telefônico com os envolvidos no ocorrido.

Após o flagrante, os empregadores assinaram Termos de Ajuste de Conduta (TAC) se comprometendo a cumprir integralmente a legislação. Eles pagaram indenizações a título de dano moral individual e R$ 7,5 mil relativos ao dano moral coletivo. O valor será destinado a uma campanha publicitária para divulgação dos direitos dos trabalhadores rurais.

Nos últimos anos, uma série de operações verificaram a exploração de mão de obra escrava em fazendas da região de Campos dos Goytcazes (RJ), em especial no pesado trabalho nas lavouras de monocultivo de cana.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

domingo, 24 de julho de 2011

Se quer lutar então vem!

Ao todo foram 7 dias com pessoas diferentes, lindas e loucas que fizeram a ida à GO um sucesso. O 52º CONUNE realizado na semana passada em Goiania além de trazer à tona debates como PNE e Legalização da Maconha também mostrou caras limpas dispostas à lutar. Não quero falar sobre o congresso em si, mas o que ele representou.

Conheci pessoas que não sairão, nem que queiram, da vida do povo do Pará.

O que nos une é o desejo de mudança, desejo de lutar e não desistir jamais.

Vamos nos CONTRAPOR sempre.

Não importa se seremos chamados de loucos ou radicais, o fato é que não no calaremos nunca!


Aos companheiros de esquerda de todo o Brasil um grande abraço socialista!


Conferência de Juventude: começam etapas municipais e livres

Por Camila Maciel
Jornalista da Adital

Com etapa nacional prevista para os dias 9 a 12 de dezembro deste ano, a Conferência de Juventude já mobiliza vários estados brasileiros. Divididas em etapas municipais, estaduais e livres, os momentos que antecedem o encontro nacional convocam os jovens de todo o país a pensar quais são as políticas prioritárias para a juventude no Brasil. Além de acolher propostas, as conferências preparatórias elegem os/as delegados/as que irão participar da etapa nacional, que será realizada em Brasília, capital federal.

O estado da Bahia é um dos que já tem dezenas de reuniões municipais agendadas para os meses de agosto e setembro. O prazo para que os prefeitos do estado convoquem as conferências segue até o dia 1º de agosto. As atividades baianas são coordenadas pelo Comitê Executivo da Comissão de Organização Estadual (COE). A etapa estadual está prevista para os dias 28 e 30 de outubro.

Segundo o COE, uma das principais dificuldades encontradas para a mobilização dos municípios é a ausência do Sistema de Juventude. Ao contrário dos temas de educação, saúde ou assistência social, por exemplo, a maioria das prefeituras não conta com uma pasta específica para tratar do tema. Como fator de motivação, a Comissão incentiva os gestores realizarem a Conferência como forma de interagir com os programas e políticas do governo federal para a juventude.

Juazeiro da Bahia será o primeiro município a realizar a Conferência no estado, no dia 17. Será um momento de exercício da cidadania dos jovens, no qual eles serão responsáveis pela definição das políticas públicas voltadas para a juventude, assim como irão refletir sobre as ações voltadas para os jovens em suas cidades. Senhor do Bonfim (19), Jacobina (20), Irecê (21) serão as próximas cidades baianas a realizarem seus encontros.

A cidade de Manaus, no estado do Amazonas, também já prepara sua etapa da Conferência de Juventude. Com participação do poder público, organizações e movimentos de juventude e sociedade civil, os jovens manauaras estarão reunidos nos dias 22 e 23 agosto, no au­ditório da Assem­bléia Leg­isla­tiva do Es­tado. De acordo com a Sec­re­taria Mu­nic­ipal da Ju­ven­tude (Semje), será uma oportunidade de promover e consolidar as políticas públicas na cidade.

Além das etapas presenciais, em 2011 haverá ainda a possibilidade de participação por meio virtual. Uma plataforma irá disponibilizar os temas e um mediador, com conhecimento no assunto. Assim, os participantes poderão discutir e apresentar propostas via internet. Também serão realizadas reuniões por videoconferência.

A Conferência Nacional de Juventude

A primeira Conferência Nacional de Juventude foi realizada em 2008, com o envolvimento de cerca de 400 mil pessoas nas mais de 1500 conferências, dentre etapas municipais, estaduais e livres. A Conferência de 2011 terá como lema "Conquistar direitos e desenvolver o Brasil”.

Dentre as pautas prioritárias para discussão na Conferência, estão o Estatuto da Juventude, o Plano Nacional de Juventude e o Sistema Nacional. O Plano e o Estatuto estão em tramitação no Congresso Nacional e "precisarão da mobilização da juventude para serem aprovadas e qualificadas pelas deliberações da Conferência”, de acordo com o documento base do evento.

Com informações do governo federal e do estado da Bahia e de Manaus.

Para mais informações: www.juventude.gov.br

Vidas Secas

Por Christiane Peres

Com um projeto que promete ser a salvação do país em geração de energia, o governo federal passa por cima dos direitos das comunidades afetadas pela usina de Belo Monte.

Amanhece em Altamira, cidade a sudoeste do Pará, quando a Kombi pega a estrada rumo à comunidade São Raimundo Nonato, no quilômetro 45 da rodovia Transamazônica. No local, também conhecido como Travessão da Cobra Choca, vivem 192 famílias de agricultores. Asfalto não existe, ficou a quilômetros de distância, ainda perto de Altamira. Energia elétrica também não há. O último ponto do Programa Luz para Todos, do governo federal, ficou no início do Travessão, na última grande fazenda antes de chegar à vila desses pequenos agricultores. Uma gente esquecida no tempo, só lembrada agora, quando a retomada do projeto de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, apontou que as terras ocupadas por essas pessoas seriam alagadas. Diante do megaprojeto encabeçado pelo governo, essa comunidade luta para permanecer em sua terra.

As cortinas de chita estampadas dividem os cômodos da casa de Marizete Brasiliana dos Santos. De perto, entende-se que ali o ritmo de vida é outro - as necessidades e os desejos também. Há fartura na mesa, apesar da simplicidade da morada. No cardápio do almoço, arroz, feijão, legumes cozidos, frango caipira, carne de panela, macarrão e salada de alface, recém-colhida da horta da família. Nessa hora, Marizete desabafa: "Eles pensam que trazer essa usina é desenvolvimento. Pra gente, não é. Em vez disso, deviam construir um posto de saúde aqui na comunidade, trazer escolas para os nossos filhos. Mas isso eles não fazem", contesta. "A gente tem medo de pensar que pode ficar sem nada quando essa obra sair. Na cidade é preciso comprar tudo. Sem emprego, vamos viver como lá?"

Belo Monte é uma das mais imponentes e questionadas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Será a segunda maior hidrelétrica brasileira, somente atrás da binacional Itaipu, construída no rio Paraná, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Em estudo desde a década de 70, ainda durante o período da ditadura militar, o projeto de Kararaô - antigo nome de Belo Monte - foi alterado e reprovado diversas vezes. Ironicamente, foi durante o governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda reunia boa parte da vanguarda ambientalista do país, que o novo projeto da usina foi aprovado, em fevereiro de 2010. Com a urgência pré-eleitoral que levou Dilma Rousseff ao poder, o governo passou por cima dos direitos das comunidades atingidas e relegou ao segundo plano o debate sobre a sustentabilidade do empreendimento. A usina de Belo Monte, vendida como a salvação do Brasil em geração de energia, é motivo de críticas de vários setores e protagoniza um dos processos mais antidemocráticos desde os tempos do regime militar.

Os otimistas afirmam que o empreendimento terá capacidade para gerar 11,2 mil megawatts de energia, mas estudos relacionados à obra mostram que Belo Monte jamais irá operar com essa potência. A energia média assegurada é de 4,5 mil megawatts e, em tempos de seca, a geração poderia ficar abaixo de mil. Para os críticos da obra, o custo-benefício não compensa, mas o governo e a Norte Energia - consórcio vencedor do leilão da usina - contestam. "O sistema brasileiro de hidrelétricas é invejado no mundo inteiro e não é besta de construir uma usina que não tenha viabilidade econômica", pondera Luiz Fernando Rufato, diretor de construção do consórcio.

Assim como Marizete, calcula-se que mais de 30 mil pessoas sofrerão com as incertezas relacionadas à megausina. Vando Tavares é dono de um pequeno ponto comercial na comunidade São Raimundo Nonato. Morador da região há 22 anos, ele sempre ouviu os boatos sobre a construção. Há até pouco tempo, aliás, era o único morador do Travessão da Cobra Choca a favor da usina, mas a difícil negociação com os representantes do consórcio vencedor alterou a opinião do comerciante. "Ainda não sou totalmente contra, porque a gente precisa de energia, não é?", diz. "Mas ninguém nos diz para onde seremos levados, quanto vamos receber pelas terras. Além do comércio, vivo da pecuária e também plantei uns oito mil pés de cacau, que daqui a pouco vão começar a dar."

Junto ao gado, o cacau é uma das principais fontes de renda da população dos arredores da Transamazônica. Os 15 municípios da região são responsáveis por 80% da produção do Pará. Em 2009, por exemplo, o estado produziu 56 mil toneladas da amêndoa; dessas, 45 mil toneladas saíram das terras de sete mil famílias que vivem na região da Transamazônica. Em volume, a produção paraense só fica atrás da Bahia.

De acordo com Paulo Henrique Fernandes, coordenador regional da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), entidade ligada ao Ministério da Agricultura, um pé de cacau vive, em média, 40 anos. Após cinco anos da plantação, começa a dar o fruto, que rende a amêndoa seca vendida na cidade e também para o exterior. "O cacau da nossa região sustenta diversas famílias. Tem muito produtor que sentirá o impacto da construção de Belo Monte, pois vai perder seu ganha-pão", afirma Fernandes. O valor de venda depende da qualidade da amêndoa seca, mas os agricultores conseguem, no mínimo, R$ 5 pelo quilo. "Se uma família tem três mil pés, pode tirar até dois salários mínimos por mês, porque o cacau dá o ano inteiro. Nem o boi rende isso aqui", complementa José Aparecido de Souza Santos, presidente da Agrivox (Associação dos Agricultores da Volta Grande do Xingu).

terça-feira, 19 de abril de 2011

Páscoa o que isso simboliza pra você?!


Sempre no período da páscoa, lembro de canções que embalaram minha infância e adolescência e essa é uma delas que aprendi com a "tia Diná" êê tempo bom!!!

"É claro que eu gosto de chiclete chocolate,
Bombom, pé-de-moleque, pirulito e muito mais,
Só que eu aprendi que o doce mais doce não se faz,
Pois como o doce é doce ao nosso paladar,
O doce mais doce não se pode fabricar,
Que o doce mais doce só, JESUS nos pode dar.

O gosto amargo da tristeza e do fel,
Jesus levou na cruz, para me levar pr'o céu,
E tornou assim, a minha páscoa doce como o mel.

Ele é minha alegria, morreu para me dá a salvação,
Ressuscitou ao terceiro dia,
Cristo é a minha redenção,
Minha páscoa minha salvação."

É isso!!!!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Seminário XINGU VIVO PARA SEMPRE!!!


Energia e desenvolvimento: a luta contra as Hidrelétricas na Amazônia

DIA 12 DE ABRIL – Auditório do CCSE da UEPA

Rua Djalma Dutra entre Municipalidade e Pedro Álvares Cabral.
Entender a dinâmica da região amazônica, seu povo, a floresta, o fluxo de seus rios, a flora e a fauna em seu conjunto, e como tudo isso se interliga em um sistema equilibrado, determinante para a existência da vida nesta imensa região, e no mundo, é tarefa obrigatória se queremos superar a destruição que o atual modelo de desenvolvimento, pautado na exploração dos recursos vegetais, minerais e hídricos, implementa.
Conhecer, compreender e agir são nossos únicos caminhos.


REALIZAÇÃO: XINGU VIVO PARA SEMPRE – COMITÊ METROPOLITANO
Apoio: Mandato da Senadora Marinor Brito, Mandato do Deputado Edmilson Rodrigues, UFPA, UEPA, CPT, FAOR.
Contatos: comitexinguvivo@hotmail.com

segunda-feira, 7 de março de 2011

Cinco de março, vinte e seis anos.

Depois de 3 dias de festas surpresas quero agradecer à Deus que me deu vida e muitos amigos para compartilhar momentos mágicos.

Sendo assim tenho alguns agradecimentos à fazer:

Agradeço aos compas do trabalho (Sintprevs), que fizeram um almoço ainda na sexta (4) com direito a bolo surpresa e fotinhos que depois publico.

À Confraria Agaia, pela festa surpresa também na sexta,por serem os primeiros a dar parabéns, pelos confetes que ainda estão no quarto, pelo patê especialidade do "meu protegido", pelos ...'s e claro pelo carinho.

À mana (irmã mais velha)que no sábado (dia do meu aniversário) fez um bolo delicioso de chocolate e tive até convidados, velhinha e muita gargalhada.

À orquestra que fez ontem (6) festinha com balões, velinha, convidados ilustres, discursos emocionantes, amores e amigos que não podiam me deixar sem boas risadas,muita coca-cola e um bom violão.


É isso, que venham outros aniversários...

Viva euu!!!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Pedaços de mim

Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante

Já tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.

Martha Medeiros

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Amor e Sexo - o 4º olhar

Compartilhando com alguns amigos a idéia "insana" de três blogueiros (eu, Adison Cesa e Eraldo Paulino) sobre o tema AMOR E SEXO, um deles me enviou essa resposta que resolvi publicar.

Divirtam-se.

O que, afinal, nos torna humanos? Não basta nascer.
Há muitos homens e mulheres que ainda não realizaram sua humanidade.Outros tanto nunca realizarão. Creio que o que nos torna humanos é a capacidade de nos relacionarmos, de interagirmos, de extrapolarmos as fronteiras interiores. De projetarmos nossa vida no tempo, de buscarmos o futuro.

Partilhar, portanto, é indispensável. Em uma palavra: o que nos torna humanos, são os outros.

Assim sendo creio que o amor e o sexo se realizam quando nos encontramos no outro, quando há níveis de reciprocidade, melhor: de cumplicidade.

Sexo com amor é a fórmula ideal, mas não elimina o sexo sem amor. Aliás, acho que só saberemos o que é o sexo com amor se tivermos praticado o sexo sem amor, caso contrário não haverá referencial.

Sexo sem amor não é sinônimo de prostituição, embora quase toda prostituição seja sexo sem amor.

Quando falo em sexo sem amor não penso em banalização do sexo. Falo de um sexo mais libertário, um sexo com cumplicidade, com carinho, com cuidado mútuo, alegria, harmonia. Um sexo feliz, cheio de desejo sincero. Isso será possível apenas com um parceiro? Penso que não necessariamente. Se o sentimento for verdadeiro, se houver entrega, poderemos ver sexo com mais de um parceiro ao mesmo tempo.

Não falo de sexo a três (ou mais), embora ache um deleite. Falo em sexo com parceiros (as) diferentes feito sem culpa, de forma natural e harmoniosa.

Não viveria sem sexo.

Fazer sexo é maneira mais humana de se sentir vivo. É uma das cumplicidades mais profundas que pode haver entre dois seres humanos. Se você estiver fazendo sexo sem amor, mas com muita cumplicidade, carinho e tesão, não se sinta culpado. Aproveite. Nem todo mundo tem isso.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Amor e Sexo. O desafio


Aceitei o desafio dos amigos jornalistas Adison Cesar (o foca) do blog Lenda Pessoal e do Eraldo Paulino ( o mala) do Eraldo e suas Paulinisses. Deixa eu explicar.

Tal "imoralidade" surgiu do foca, e o mala endossou e a donzela aqui chegou pra somar. Afinal precisa de um toque feminino nisso.
Então o lance é, escrever sobre o tema AMOR E SEXO,cada um com seu olhar e nuances, e depois..... ah depois é só prazer.

Vamo lá!

Amor = idéias. Sexo = palpável. As vezes é isso que penso. Dividir os dois.
Mas tem como?? Sim e Não. Levando em conta que não somos robôs, e que o auto controle é dificil, não nos envolver é quase impossível.Há quem tenha esse traquejo.

Ouvimos muito o termo "banalização do sexo". Pouco ouço sobre a banalização do amor.
Virou normal, conhecer alguém hoje, e dizer que ama, ou nem chegar a conhecer e ainda assim já amar.

Pra mim, amor é atitude. Não basta dizer que ama, tem que mostrar com gestos simples a leveza da palavra. Bonito não?
HIPOCRISIA!

Todos sabem o real significado, mas ninguém o faz. Na escola por exemplo, sempre demonstra ódio quando se quer abraçar.O casamento sem atritos, parece não ter graça, e ainda tem cara de pau com a desculpa de que briga para se reconciliar depois.

Fazer o certo é dificil. Amar também é. Os dois são ordenanças bíblicas, onde encontramos incesto, também encontramos a pureza. Um colado no outro.

Amar quando convém, é lindo. Transar então sem se fale. A verdade é que quase tudo virou moeda de troca e relacionamentos são contratos e distratos, ambos em comum acordo.


Que venha o próximo desafio.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Quem são nossos heróis?

BIG BROTHER BRASIL - Por Luiz Fernando Veríssimo
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.

Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE...

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.

Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?

São esses nossos exemplos de heróis?

Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..

Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.

Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.

Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.

E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?

(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)

Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.

Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.

Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CGU vê irregularidades em 4 municípios do Pará

Despesas feitas sem comprovação documental, uso de notas fiscais falsas e uma grande variedade de fraudes em licitações predominaram entre os problemas constatados pela Controladoria-Geral da União (CGU) nas 31ª e 32ª edições do Programa de Fiscalização por Sorteios. Nessas duas edições do programa, a CGU fiscalizou a aplicação de R$ 2,4 bilhões em mais 120 municípios. Somente no município de Tefé, no Amazonas, gastos de R$ 11 milhões com recursos do Fundeb não tiveram comprovação documental. Em Curralinho, no Pará, as despesas sem comprovação chegaram a R$ 9,7 milhões.

Neste município do Pará a prefeitura se recusou a apresentar os documentos solicitados pela CGU. Foi preciso recorrer ao Ministério Público Federal, e este à Justiça, que determinou a busca e apreensão do material. Mesmo assim, diversos documentos necessários à fiscalização não foram localizados. A equipe da CGU identificou várias despesas efetuadas pela prefeitura com recursos federais sem a devida documentação comprobatória.

Em relação aos recursos repassados pelo Ministério da Educação em 2009 e 2010, a prefeitura não comprovou despesas no valor de R$ 8 milhões.

Já em relação aos recursos repassados pelo Ministério da Saúde no mesmo período, a prefeitura efetuou saques, no valor total de R$ 1,7 milhão, sem comprovar o destino dado ao dinheiro.

Além das irregularidades já citadas anteriormente, a CGU também constatou em Curralinho indícios de fraude em 21 processos licitatórios supostamente realizados em 2009, todos na modalidade Convite, que envolveram a aplicação de R$ 1,5 milhão. Entre as empresas que constam como licitantes, várias não foram localizadas e uma delas negou ter participado dos certames.

Em São Sebastião da Boa Vista, a CGU identificou indícios de montagem em, pelo menos, quatro processos licitatórios realizados em 2008, na modalidade Convite, para construção de duas escolas e aquisição de material de higiene e limpeza, com recursos repassados pelo Ministério da Educação. Além disso, foi constatado ainda que a prefeitura pagou cerca de R$ 1,2 milhão a uma construtora sem a devida comprovação de execução dos serviços. O dinheiro fora repassado pelo Ministério da Saúde para a implantação do sistema de esgotamento sanitário no município.

Irregularidades diversas foram descobertas também em Anajás, na formalização de dois processos licitatórios realizados pela prefeitura, em 2009 e 2010, para a aquisição de medicamentos e materiais hospitalares, com recursos repassados pelo ministério da Saúde (R$ 2,2 milhões). Os processos não foram autuados, protocolados nem numerados. Além disso, nenhum dos dois contêm a documentação de credenciamento dos representantes das empresas licitantes, embora isso fosse condição exigida para a participação e habilitação nos certames.

Em Itaituba, foram encontrados indícios de fraude em 11 licitações realizadas pela prefeitura, em 2008, todas na modalidade Convite, para construção, ampliação e reforma de escolas, com recursos repassados pelo Ministério da Educação. Em um dos certames, ficou constatado que o Certificado de Registro Cadastral de uma das empresas licitantes tinha data posterior à data de ocorrência da abertura do processo de licitação, o que põe em dúvida a própria realização da licitação. Além disso, a CGU identificou indícios de sobrepreço, no valor de R$ 233,9 mil, em parte dos custos analisados.

Fonte: (Diário do Pará)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Apologética com humor

Checando os blogs e sites como de costume nessa manhã cabulosa e chuvosa, divido com vocês um texto do blog do Genizah escrito pelo seu cúmplice Rubinho Pirola, ambos seguidores da Apologética com humor, um figura sarcástico, cristão (na verdade um infiltrado) e por incrível que pareça um crítico ferrenho de pastores e crentes de todo tipo. Creio que não vou precisar explicar muito depois de lerem a última dele.

Com vocês O REI DAVI E A GAROTA DA LAGE

PARABÓLAS PARABÓLICAS - A História revista pela contemporaneidade!
Por Rubinho Pirola

O quê? Gritou enfurecido o rei, diante da corajosa mas desaconselhável afirmação do profeta que, sem esperar tal reação, continuou a acusação em forma de parábola, buscando talvez, amenizar um pouco a árdua tarefa que, segundo afirmou depois (já sem os dentes e numa cela do palácio real), fora Deus quem o enviara a tal difícil tarefa.

O pobre homem viera, cheio de boas intenções, mas sem muito cuidado, como aliás convém a quem vai confrontar um soberano ou a um forasteiro em baile de garimpo.

Sabes quem sou eu? Esbravejou o Rei Davi, atirando pra tudo que é lado o que estava sobre a mesa real.

Sou o ungido do Senhor e tu tens idéia do que isso significa? Sou o escolhido, o eleito, o preferido dos céus, o primeiro da nação, rasgando as vestes – não as suas, mas a do profeta, encolhido e nesse momento, suando mais que tampa de marmita.

Sabe isso, seu verme, diante das escolhas erradas do meu antecessor, Saul, nunca fui capaz de dirigir-lhe uma só palavra de acusação e tu, um profetazinho meia-boca, vens insinuar que eu cometi adultério com a mulher daquele infeliz, o Urias, um soldado abestado que nem batalhar soube e agora vens culpar-me pela sua morte?

Naquela altura, até os gatos que jaziam sonolentos como de costume no salão real, haviam desaparecido pela janela a fora e os serviçais todos já leiloavam o melhor lugar para ouvir – ainda que de longe – o arranca-rabo.

Eu sou o Rei de Israel, lembras, ó verme? Eu sou o maior aqui e não foste tu ou outro mortal que me pôs em tão grande posição, espumava o enfurecido monarca judeu, ex-pastor de ovelhas, filho de Jessé.

Quantas pessoas tu lideras? Quantas batalhas já venceste, seu religioso de merda! Onde estavas quando eu venci o gigante Golias? Quantos ursos ou quantos leões já mataste segurando-os pela barba? Lembra-te de Mical, a que me desprezou e ficou estéril? Pois é isso o que acontece aos que ousam me criticar ou oporem-se a mim!

“Foi com Deus”, quase surrurrou Natan, emendando: “Ela ofendeu a Deus!”, encolhido diante da ira de Davi!

O quê? Deeeeeuuussss? Berrou o rei! Saiba que EU, eu fui o ofendido e um dos sinais da minha unção, é que não passa batido nenhuma ofensa à minha pessoa! É isso o que acontece a quem me desafia!

Todo mundo já conhecia o boato em Jerusalém, que o rei havia pulado a cerca real e papado a mulher do vizinho – a bela Beth-Seba (conhecida também por Betinha, a “garota da laje”, pelo seu hábito, comum na época, de bronzear-se sobre o telhado da casa).

Para piorar o bafafá, jurava a dona Nadir, filha de Zebedeu de Cafarnaum, filho de Otonielson, a copeira real, que a dita Betinha, que caíra na maldosa boca do povo até já estava à espera de um filho, fruto da traição.

Muitos, é claro, apesar de adorar um babado dos grossos como esse, não confiavam muito em toda a história, posto que a fonte da informação já de muito, tinha o hábito de divulgar “off record”, boatos sobre a vida privada e nada honrada de Davi. Mesmo com a grande probabilidade de isso ser verdade (a intimidade do sujeito era um desastre), o risco era grande. Podia- ser preso, perder-se a cidadania e, banido do reino. Ou coisa pior podia vir sobre o desafeto da casa real – desaparecer em algum “acidente inexplicável”, afinal, Davi era tido e sabido como “o ungido do Senhor”, o soberano Rei sobre o destino de tudo e de todos.

Como não tinham ainda inventado as mini câmeras escondidas dos programas da Rede Globo e não existiam paredes seguras o bastante para impedir ouvidos bisbilhoteiros, a história, ou boato, vazou. E a coisa fedeu pneu queimado!

O Globo de Sião e O Shofar Popular, foram os primeiros a estampar em primeira página o sucedido todo em minúcias. Foi o caos completo!

Imediatamente, correram os marketeiros de plantão e o porta-voz do palácio a desmentir tudo. Aquilo era, segundo eles, mais um ataque dos inimigos de Deus e do Reino. Pura campanha de discriminação. Coisa de perseguição. Agentes dos que queriam derrubar Israel e o povo de Deus, anti-sionistas sórdidos.

O povo se dividiu.

Uns tatuavam nos braços – “Davi é o meu Rei e ninguém tasca”, “Israel até morrer” e, como era de se esperar, até um bem sucedido comércio surgiu: de auto-colantes, camisetas e bandeiras com as frases, a trazer lucro a alguém.

Outros, no lado oposto, proclamavam em alta voz fazendo referência às Escrituras que condenavam todo o sórdido ocorrido e o Rei pecador, a agir como um amalequita qualquer, inimigo do Senhor e da Sua lei, mas eram minoria e ninguém lhes deu crédito.

Beth-Seba, nessa altura, já legítima esposa do Rei, vem a público declarar: “Vocês não sabem com quem estão mexendo. A vingança virá e não só das nossas mãos”, tentando pressionar a imprensa que, desde aquela época, já era cheia de infiéis ateus e zombadores das ameaças divinas.

Para encurtar o caso, de Natan, pobre homem piedoso, nunca mais se soube.

Nunca mais foi visto no templo ou nas celebrações oficiais.

Correu um boato, sem confirmação, que acabou como vendedor de rua na Babilônia ou amparado em casa de alguns piedosos exilados no Egito, onde terá sido visto da última vez que dele se teve notícia.

Do filho da pobre e mal-afamada união, apesar de toda a versão oficial de que “o inferno não iria pôr-lhe a mão”, também nunca mais se falou.

É certo que, Suzi Salomé, filha de dona Nadir, filha de Gamaliel, filho de Darcilei, o hitita, uma garota que muitos acusavam de “prestar serviços obscuros” ao rei, sempre acostumado a atos secretos, e que obviamente não era lá de se confiar, chegou a jurar de pé junto, pouco tempo depois, que a pobre criança afinal morrera de uma enfermidade nova, trazida pelos porcos ou pelos mexicanos, ninguém sabe ao certo, nos braços do pai desesperado.

Séculos depois, a triste descendência de Davi, cheia de atropelos, vem afinal sucumbir por completo, quando o último dessa linhagem controversa, Genésio, filho de um carpinteiro, irmão de Tiago, que morreu de cirrose hepática e de outro, que morreu na cadeia por tráfico de pães asmos alucinógenos, vem também a morrer, pregado em dívidas de jogo, num fim de semana de Páscoa.

Eu vou parando por aqui.

Como bom judeu esse cronista, deixa aqui o seu testemunho sem mais detalhes e vai atrás do seu jornal e de umas ofertas pelo seu pecado – e correndo - pois hoje é Sábado e tudo fecha em Jerusalém.


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Igreja pede explicações ao Estado

Por Ligia Martins de Almeida em 25/1/2011

Como se não bastassem as mortes na região serrana do Rio de Janeiro e as brigas entre seus principais aliados – PMDB e PT –, a presidente Dilma Rousseff agora vai ter que lidar com os questionamentos da igreja católica. Empossado como prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, o arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Avis, cobrou uma definição da presidente em entrevista publicada na Folha de S.Paulo (19/1/2011):

"Não temos uma ideia clara de quem é Dilma do ponto de vista religioso. Ela precisa explicar melhor as suas convicções religiosas para que o diálogo possa progredir. O que sabemos é que Dilma mostrou flexibilidade com relação a temas importantes para a igreja. Mas também sabemos que políticos fazem isso: durante a campanha, é uma coisa e, na prática, o caminho às vezes é outro. Eu espero que as posições dela se aproximem das posições da igreja. Para isso, precisamos conhecer melhor o que pensa a Dilma presidente em relação a certos temas. Não só o aborto, que teve destaque na disputa eleitoral, mas também quanto ao PNDH-3 [Plano Nacional de Direitos Humanos], que traz posições contundentíssimas para a igreja. Há aspectos muito bonitos com relação à questão social, mas temos aborto, homossexualismo, um monte de coisa que precisamos ver como vai ficar."

Enquanto o religioso espera para ver como as coisas vão ficar, os jornais poderiam esclarecer que questões como legalização do aborto, união de homossexuais e outros temas tão caros à igreja independem da exclusiva vontade da Presidência da República. Qualquer modificação na lei referente ao aborto ou à união legal de homossexuais, por exemplo, passa por aprovação do Congresso Nacional.

Deveriaa imprensa esclarecer também que as atitudes da presidente – ou de qualquer presidente deste país – dizem respeito apenas ao Estado, assim como as decisões da igreja (católica ou qualquer outra) dizem respeito apenas aos seus seguidores. Como disse o próprio cardeal em sua entrevista, "a separação entre igreja e Estado foi uma conquista e representa uma grande vantagem democrática em relação ao passado, quando havia a imposição da religião sobre o Estado".

O papel de cada um

A entrevista de Dom João de Braz Aviz acabou repercutindo no jornal concorrente. Em artigo publicado domingo (23/1) no Estado de S. Paulo, Débora Diniz discute o tema sob o título "Quem tem medo da laicidade?":

"De minha parte, não preciso conhecer a fé religiosa de nossa presidente para acreditar na democracia. Ainda diferente de d. João, estou certa de que, se o ex-presidente Lula se apresentou como homem de Estado, a atual presidente poderá ir além: melhor será se somente conhecermos a mulher de Estado. Se a ela for conveniente expor suas crenças privadas em matéria religiosa, que esse seja um fato indiferente à vida democrática. Mas, honestamente, preferiria que Dilma fosse não apenas a primeira mulher presidente, mas principalmente, aquela que atualizasse o dispositivo da laicidade do Estado brasileiro... Não há incompatibilidade moral entre a mulher de fé e a mulher de Estado. Só elegemos a mulher de Estado."

Enquanto a presidente da República procura organizar seu governo e enfrentar as catástrofes (naturais e políticas), melhor seria se o cardeal católico e todos os outros líderes religiosos do país se unissem em oração ou trabalhassem efetivamente para ajudar as vítimas das enchentes por esse Brasil afora. Cabe à imprensa esclarecer aos leitores que cada um tem seu papel na democracia, noticiando, comentando e, sempre que necessário, destacando que Estado e igreja são coisas diferentes.

Se cada um – Estado, igreja e imprensa – fizer a sua parte, a democracia só tem a ganhar.

Fonte: Observatorio da Imprensa

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Por que 1968 foi mais badalado que 1964??


OS 30 ANOS DO AI-5 - um golpe dentro do golpe - foram muito bem relembrados pela mídia. O retrospecto foi esmerado. Incomparavelmente melhor do que as comemorações dos 30 anos do primeiro ato dos Anos de Chumbo – a quartelada que derrubou Jango Goulart.

Qual a razão da diferença? Por que este empenho num episódio que, cronologicamente, é secundário com relação ao outro?

Nos dois episódios a imprensa foi protagonista. Em 1964, excetuada a Ultima Hora, a grande imprensa estava na vanguarda do movimento militar. Foi vilã. Em 1968, vítima. A primeira vítima. Sem uma imprensa amordaçada e intimidada seria impossível prosseguir na escalada de violências.

É preciso que se diga que a censura exerceu-se com diferentes intensidades, em diferentes períodos, nos diversos veículos. Não foi linear. A primeira fase foi manu militari (sobretudo no Rio, ainda câmara de eco do país). Depois veio um vergonhoso período de auto-censura (imposto em diferentes momentos nos diferentes veículos) onde a exceção foi a imprensa alternativa, os nanicos. A história detalhada do vai-e-vem do processo censóreo ainda precisa ser relatada. O livro de Paolo Marconi (A censura política na imprensa brasileira, 1968-1978, Global Editora, 1980) é um excelente ponto de partida. Falta minuciar muita coisa, inclusive o desempenho da imprensa ao longo da "distensão, lenta, gradual e segura".

Falta contar com detalhes o que aconteceu depois da greve dos jornalistas de 1979. E o que esta significou como alavanca para o primeiro movimento patronal concatenado dentro da imprensa brasileira - a criação da ANJ (alguns detalhes ao longo do livro de Bernardo Kucinsky, A Síndrome da Antena Parabólica).

A lembrança de 1968, trinta anos depois, demonstrou a esquecida capacidade da imprensa brasileira de buscar a densidade, o contexto, a investigação. Num passe de mágica, voltamos a 68 ou 78. E não apenas através da remissão histórica, mas através da disposição de assumir as mesmas atitudes jornalísticas e espirituais de então.

Há críticos de mídia que condenam elogios, para eles só no cacete. Bobagem. O ato de criticar impõe a necessidade de estabelecer padrões de excelência. No finzinho do ano em que a mídia desnudou-se e escancarou suas fragilidades, uma pequena e significativa amostra de que nem tudo foi para o brejo.

Os melhores desempenhos foram dos semanários Época e Veja. O primeiro optou pela reconstituição histórica, cuidada, relevante. Com o complemento sonoro na Internet: a gravação da sessão do Conselho de Segurança Nacional que aprovou o AI-5. (Ver no Caderno do Leitor carta de Fábio Altman.)

Veja, felizmente esquecida de algumas travessuras pouco dignas, fez um esplêndido trabalho de investigação trazendo de volta todo o horror das câmaras de tortura. Os jornais estenderam-se em edições caprichadas. Mesmo aqueles, como O Globo e a Folha, poupados pela censura.

Mais uma vez ficou provado que lembrar faz bem.

Fonte: Observatorio da Imprensa

175 anos da Revolução Cabana

Uma luta em curso (I)

Após esses 175 anos de Revolução Cabana, que foi coordenada por homens simples, anônimos, que escreveram, a partir da vontade coletiva, algumas das mais importantes páginas da história do povo brasileiro e em especial do povo paraense, a motivação desta vontade coletiva pode ser explicada, emprestando as palavras de Maria G. Gohn (1997, p.54): “enquanto a humanidade não resolver seus problemas básicos de desigualdades sociais, opressão e exclusão, haverá lutas, haverá movimentos”. A situação por que passava a maioria do povo pobre do Pará foi o ingrediente mais do que justificável para que homens e mulheres das mais variadas cores e religiões pudessem se organizar e, de armas em punho, gritassem uníssonos por liberdade, justiça e igualdade.

Várias formas de se apropriar do legado da Cabanagem foram utilizadas. Em princípio Domingos Rayol tomou a Cabanagem como um motim de desalmados, irracionais que tinham como desejo a expressão da ira e do terror, argumento perfeito para consolidar a repressão sanguinária que derivou sua apreciação, gerando um genocídio neste Estado que dizimou um terço da população masculina paraense.

Mas Vicente Salles, um dos mais importantes historiadores paraenses, identifica uma luta de classes que eclode em 1835 com a Cabanagem. Relata a expressão política de membros excluídos da sociedade paraense, que era baseada nos grandes proprietários e comerciantes portugueses, por trás da simples oposição entre portugueses e brasileiros – havia uma heterogeneidade de posições que se somaram, formando um quadro político instável na província. De acordo com ele, de um lado estava o colonizador, uma minoria que controlava o poder e os meios de produção; em oposição, estava o colonizado, “massa heterogênea de camponeses e peões”, pertencente à categoria de homens livres sem terra “vivendo à margem da escravidão”. Em muitos momentos, a condição do colonizado era pior até que a situação dos escravos.

Como o subtítulo diz, o livro de Vicente Salles é a “história do pensamento político-revolucionário do Grão-Pará”, pensamento cujas raízes estão nas grandes transformações ocorridas no final do século XVIII e no início do século XIX. A Cabanagem é a soma do reflexo da ação desempenhada por idéias liberais, republicanas e libertárias. A Revolução Francesa, a Revolução Americana e a Revolução da Guiana Francesa, principalmente, exerceram papel importante na propagação de idéias políticas entre diferentes camadas da sociedade do Grão-Pará.

Leia mais no Ponto de Pauta

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dois mil e onze motivos para ler Eliane

Para começar bem o ano, nada melhor que Eliane Brum. Leveza e sensibilidade!


Apreciem....

Pedófilo é gente?

*Eliane Brum
É preciso reconhecer a face humana daquele que nos horroriza

Li muitas reportagens e artigos sobre pedofilia desde que estourou o mais recente escândalo da Igreja Católica. O tema é difícil para mim. Decidi escrever sobre ele apenas porque me parece que um aspecto foi esquecido – ou quase – nas inúmeras ótimas abordagens. O sofrimento. Pedófilos não são monstros, como a maioria de nós preferiria. São gente. E muitos deles – não todos – sofrem pelos atos que cometeram. E preferiam não ser o que são.

Para quem estava em Marte nas últimas semanas. A polêmica aumentou de tom depois de o New York Times denunciar que o atual papa, Bento XVI, teria encoberto os crimes do padre Lawrence Murphy, nos Estados Unidos, quando ainda era cardeal. O padre, hoje morto, é acusado de abusar de 200 meninos surdos. O suposto envolvimento do papa na ocultação da violência é negado com veemência pelo Vaticano. As denúncias de pedofilia cometidas pelo clero católico continuam, nos Estados Unidos e em diferentes países da Europa. Em algumas delas, Bento XVI tem sido acusado de encobrir os casos ou demorar a tomar providências em períodos anteriores ao papado.

Interessa-me aqui falar menos da Igreja Católica e do papa – e mais de nosso olhar sobre a pedofilia e o abuso sexual. Nunca faz bem para a compreensão de problemas complexos dividir o mundo entre bons e maus, bandidos e mocinhos, monstros e homens. A vida fica supostamente mais simples, mas é uma simplicidade falsa, já que nada se resolve se não encaramos a humanidade daquele que nos provoca horror.

O abuso sexual cometido contra crianças nos horroriza. E acredito que nos horroriza por várias razões, algumas delas óbvias. Mas também porque a maior parte dos abusos é infligida dentro de casa, por familiares. Os abusadores mais frequentes são pais, padrastos, tios, primos, irmãos. Algumas vezes mulheres: mães, madrastas, tias, primas, irmãs.

As estatísticas mostram que as mulheres abusariam bem menos que os homens, mas há dúvidas sobre isso. Como afirma uma psicanalista com quem conversei: “Às mães e às mulheres, em geral, são permitidas algumas liberdades com os filhos, enteados, sobrinhos. Alguns comportamentos parecem mais naturais às mulheres que aos homens. Me parece que o abuso cometido por mulheres é ainda mais mascarado. No presídio feminino onde eu trabalho, há uma ala para abusadoras. E ela está cheia”.

O fato é que o abuso sexual está sempre muito mais perto do que gostaríamos. E, quando paramos para pensar com honestidade, em geral conhecemos alguém próximo que foi abusado ou abusou. E muitas vezes nós também silenciamos.

Em 1997, percorri o Rio Grande do Sul para fazer uma grande reportagem sobre abuso sexual infantil. Eu não queria entrevistar apenas as vítimas, queria escutar também os abusadores. Alguns na cadeia, outros seguindo a vida nas ruas. Nunca me recuperei desta reportagem. Por causa dos horrores que ouvi – e vi. Mas principalmente por causa da quantidade e da intensidade da dor. Eu esperava o sofrimento das vítimas. Nada me preparou para o sofrimento dos “monstros”. Não de todos, é preciso dizer. Há aqueles que não têm conflitos – e, portanto, não sofrem. Mesmo estes, continuam humanos.

Encontrei abusadores despedaçados pelo que tinham feito – e pelo que tinham vontade de continuar fazendo. Fora a cadeia, não havia nada para impedi-los de seguir abusando. E alguns deles queriam ser impedidos. A prisão impede de abusar, mas sem ajuda e tratamento, é muito difícil não reincidir quando saem dela. Se a estrutura de assistência às vítimas de abuso sexual é precária, para abusadores ela é quase nula.

É bem difícil olhar com compaixão para um homem ou mulher que usou de sua autoridade e poder para abusar sexualmente de uma criança. E gozou exatamente deste poder total sobre a vítima, inteiramente submetida ao seu desejo. Mas acho que precisamos tentar. Lembro de ter ficado em conflito com meus sentimentos. Porque nos casos em que foi possível, eu escutava a dor de ambos – da vítima e de quem a violou. Em alguns casos, ambos sofriam de forma atroz. Não se trata de relativizar a responsabilidade de quem abusa. Estou apenas apontando que pode existir sofrimento neste percurso – e não apenas bestialidade, ainda que a bestialidade seja sempre humana.

Dois abusadores me marcaram mais. Um deles era uma mulher – o único caso feminino que encontrei – que havia feito sexo com o filho de 14 anos. O menino estava destroçado. Ele me disse: “Eu queria parar a minha mãe, mas ficava com dó de dar um tapa nela. Nunca vou perdoar meu pai por me deixar sozinho com ela. Eu só quero morrer”. A própria mãe me contou que o filho fugia, que um dia o arrancou de debaixo da cama, onde havia se escondido dela. No caso do garoto, o sofrimento era ainda mais avassalador porque não havia como negar que ele sentiu desejo – ou não teria tido ereção.

O desejo da vítima não é algo tão raro em casos de abuso. Mas é muito difícil para as vítimas lidar com ele sem se sentirem culpadas ou responsáveis. O abusador manipula este sentimento: “Você chora, mas você está gostando”. Quando eu perguntava a esta mãe por que tinha infligido o incesto ao filho, ela repetia: “Eu fiz para salvá-lo”. Nem a mãe nem o filho tinham qualquer assistência.

O outro abusador que nunca pude esquecer foi um adolescente de 15 anos. Ele havia molestado sua meia-irmã de três anos. “Eu não queria machucar”, ele repetia. E talvez não quisesse mesmo. Não sei. Enquanto entrevistava o adolescente, familiares o chamavam de monstro. Seus pais só concordavam em um fato: preferiam que ele estivesse morto. Poucas vezes vi alguém tão só no mundo. Se era mesmo um monstro – era um bem desamparado.

É difícil ter compaixão, eu sei. Mas há algo na história destes dois que pode nos ajudar a ampliar nosso olhar. A mulher que violou o filho havia sido estuprada pelo próprio pai, aos 7 anos. E, depois da violência, foi retirada de casa e passou a vida trabalhando como doméstica na casa de estranhos. O adolescente que abusou da meia-irmã fora violado aos 2 anos. No caso dele, o mesmo pai que o chamava de monstro havia abusado dele quando era pouco mais que um bebê. E nunca foi punido por isso. Este pai era um pedófilo que teve de deixar a vizinhança porque dava balas a garotinhas para masturbá-lo. Quando o pai saiu de casa, a mãe culpou o filho e o enviou para a casa da avó.

Os dois abusadores que acabamos de odiar, portanto, teriam nossa compaixão se voltássemos alguns anos no tempo. Se voltássemos à época em que eram crianças chorando depois de terem sido arrebentadas pelos respectivos pais. A monstra seria uma garotinha estuprada e, depois, jogada na casa de estranhos para trilhar uma vida de trabalho doméstico infantil. O monstro seria um bebê violado também pelo pai e depois punido pela violência sofrida ao ser separado da mãe.

Quando nos dispusemos a enxergar além da primeira camada, os sentimentos fáceis desaparecem. E começam os conflitos. Acredito que são os conflitos que nos levam além.

Os pesquisadores do tema discordam sobre a relevância da repetição no quadro do abuso sexual. Alguns dizem que é um traço frequente, outros que nem tanto. Nos casos que investiguei, como repórter, foi marcante. Não significa que todas as crianças abusadas, ao crescer, serão abusadoras se não tiverem ajuda. Cada pessoa vai elaborar a violência que sofreu – diferente para cada uma em seu significado e suas circunstâncias – de maneira única.

É possível afirmar que, na história de uma parcela dos abusadores, há histórico de abuso sexual na infância. Um dos pesquisadores que me ajudava na reportagem cuidava de um caso que fora confirmado em pelo menos quatro gerações: o bisavô, o avô, o pai e agora o filho, todos tinham sido violados e violaram sua respectiva prole. Neste caso, sempre meninos. A esperança do psicólogo era conseguir quebrar esta linhagem de repetição com responsabilização e tratamento.

Outro traço comum e igualmente terrível é a trajetória das mães das meninas violadas. Parte delas também sofreu abuso na infância. Sem nunca ter recebido assistência, ao eleger um companheiro, escolhe inconscientemente um abusador. E, claro, não consegue proteger suas filhas. Estas mães são responsáveis pelo que acontece em suas casas. Não há dúvida sobre isso. Mas são más? Também elas são monstruosas e merecem nosso escárnio?

Lembro de duas mulheres – mãe e filha. Quando as entrevistei, a mãe tinha 37 anos. Havia sido violada pelo pai aos 9 anos. Era uma mulher simples, muito tímida. Ela contou: “Quando eu tinha 12 anos, senti uma coisa mexendo na minha barriga. Achei que era lombriga. Mas era um bebê do meu pai”. Mais tarde, ela se casou. Teve esta filha. E quando a menina completou 9 anos, o pai abusou dela. Quando as encontrei, a garota também tinha uma filha do próprio pai. Viviam todos na mesma casa. Já tinham pedido ajuda ao conselho tutelar e à polícia, mas até aquele momento nenhuma das instituições parecia saber o que fazer com o caso.

Nada é fácil neste tema. O que parece claro é que só há chance para todos se houver uma quebra do silêncio que costuma cercar estes crimes, especialmente quando acontece entre as quatro paredes do lar – ou entre os muros da Igreja Católica e de outras instituições. Em casos de violência contra crianças, os adultos precisam responder pelos seus atos – ou por ter encoberto a violência de terceiros. Mas é preciso mais do que interromper e punir: é necessário amparar e ajudar vítimas e algozes a elaborar os atos que sofreram ou os que cometeram, com tratamento e de todas as maneiras possíveis. Ou tudo poderá se repetir, num ciclo interminável de sofrimento.

Para quem estiver disposto a olhar para a face do abusador e nela reconhecer um homem – e não um monstro – recomendo um filme excepcional. Com uma interpretação magistral de Kevin Bacon, O lenhador (The Woodsman, 2004) é um filme delicado e corajoso, fácil de achar em qualquer locadora. Seu mérito é não reduzir a vida a uma batalha entre monstros e homens. Ao acompanharmos a trajetória do personagem principal, compreendemos que o pior monstro é o homem que o habita. A ele e a todos nós, de diversas maneiras.

O papa e sua igreja – sempre mais humanos e terrenos do que os fiéis e eles mesmos gostariam – vivem um momento delicado. Penso que, para além das obrigações legais e éticas de qualquer cidadão, o que faltou aos representantes do clero que sabiam o que acontecia e nada fizeram foi um dos pilares do cristianismo: compaixão. Pelas vítimas. E também pelo pedófilo. Acredito que o padre Lawrence Murphy e todos os seus colegas que cometeram o mesmo crime mereciam a compaixão de serem impedidos, também pela sua igreja, de continuar violando crianças.

*Eliane Brum é Jornalista, escritora e documentarista.