terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Por que 1968 foi mais badalado que 1964??
OS 30 ANOS DO AI-5 - um golpe dentro do golpe - foram muito bem relembrados pela mídia. O retrospecto foi esmerado. Incomparavelmente melhor do que as comemorações dos 30 anos do primeiro ato dos Anos de Chumbo – a quartelada que derrubou Jango Goulart.
Qual a razão da diferença? Por que este empenho num episódio que, cronologicamente, é secundário com relação ao outro?
Nos dois episódios a imprensa foi protagonista. Em 1964, excetuada a Ultima Hora, a grande imprensa estava na vanguarda do movimento militar. Foi vilã. Em 1968, vítima. A primeira vítima. Sem uma imprensa amordaçada e intimidada seria impossível prosseguir na escalada de violências.
É preciso que se diga que a censura exerceu-se com diferentes intensidades, em diferentes períodos, nos diversos veículos. Não foi linear. A primeira fase foi manu militari (sobretudo no Rio, ainda câmara de eco do país). Depois veio um vergonhoso período de auto-censura (imposto em diferentes momentos nos diferentes veículos) onde a exceção foi a imprensa alternativa, os nanicos. A história detalhada do vai-e-vem do processo censóreo ainda precisa ser relatada. O livro de Paolo Marconi (A censura política na imprensa brasileira, 1968-1978, Global Editora, 1980) é um excelente ponto de partida. Falta minuciar muita coisa, inclusive o desempenho da imprensa ao longo da "distensão, lenta, gradual e segura".
Falta contar com detalhes o que aconteceu depois da greve dos jornalistas de 1979. E o que esta significou como alavanca para o primeiro movimento patronal concatenado dentro da imprensa brasileira - a criação da ANJ (alguns detalhes ao longo do livro de Bernardo Kucinsky, A Síndrome da Antena Parabólica).
A lembrança de 1968, trinta anos depois, demonstrou a esquecida capacidade da imprensa brasileira de buscar a densidade, o contexto, a investigação. Num passe de mágica, voltamos a 68 ou 78. E não apenas através da remissão histórica, mas através da disposição de assumir as mesmas atitudes jornalísticas e espirituais de então.
Há críticos de mídia que condenam elogios, para eles só no cacete. Bobagem. O ato de criticar impõe a necessidade de estabelecer padrões de excelência. No finzinho do ano em que a mídia desnudou-se e escancarou suas fragilidades, uma pequena e significativa amostra de que nem tudo foi para o brejo.
Os melhores desempenhos foram dos semanários Época e Veja. O primeiro optou pela reconstituição histórica, cuidada, relevante. Com o complemento sonoro na Internet: a gravação da sessão do Conselho de Segurança Nacional que aprovou o AI-5. (Ver no Caderno do Leitor carta de Fábio Altman.)
Veja, felizmente esquecida de algumas travessuras pouco dignas, fez um esplêndido trabalho de investigação trazendo de volta todo o horror das câmaras de tortura. Os jornais estenderam-se em edições caprichadas. Mesmo aqueles, como O Globo e a Folha, poupados pela censura.
Mais uma vez ficou provado que lembrar faz bem.
Fonte: Observatorio da Imprensa
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